23.10.10

Hoje começamos nossa excursão pela Turquia. Nosso grupo foi formado por 40 pessoas, com brasileiros e argentinos, sendo esses a maioria. Partimos de ônibus em um percurso pelo interior da Turquia, fazendo paradas em diversas cidades.

Primeira parada, Troia! Um lugar onde eu jamais esperava pôr os pés. Um misto de fantasia e realidade envolvendo toda a história da cidade e dos amantes Páris e Helena, que deflagraram uma guerra épica, ricamente detalhada pela Ilíada de Homero.

Mas, antes disso, preciso contar como foi chegar até lá. Acordamos cedo e ficamos sentados no lobby do hotel, aguardando a guia, que atrasou meia hora. Já estávamos pensando que ela nos esquecera! Depois paramos em outro hotel para buscar os últimos passageiros. Assim que esses se acomodaram, a guia pegou o microfone e nos deu um baita esporro, em espanhol. Disse que, em quinze anos de profissão, nunca havia tido tanto atraso como desta vez e continuou a discorrer sobre a importância de “la pontualidad”. Ficamos todos chocados e o ônibus ficou em silêncio por um bom tempo. Eu e a Luciane ficamos muito curiosos em saber se eram brasileiros ou argentinos (a velha rixa).

Deixando o mistério do atraso para trás, seguimos caminho. Quando chegamos na estrada, a guia, que já havia se apresentado como Zélia, colou uns mapas e começou a explicar nossa viagem. Informou que teríamos paradas técnicas para banheiros a cada duas horas (exigência do sindicato dos motoristas) e que, entre as visitas, faria algumas explicações sobre a Turquia, seu povo, língua, costumes, vestimentas e religião (vou deixar essas informações para as Dicas e Curiosidades).

Só uma explicação importante para o momento: cidade de Istambul está situada nos 3% da Turquia que estão no lado europeu, os outros 97%, que seriam toda nossa viagem, está no lado asiático.

Para chegar ao lado asiático, precisávamos atravessar o Mar de Mármara. E como estávamos de ônibus, a travessia foi feita de ferryboat, pelo estreito de Dardanelos.





Já na Ásia, nossa primeira parada e a que eu mais esperava, Troia!

Quando chegamos, nossa guia, que ainda estava com cara de poucos amigos, abriu seu guarda-chuva e correu para perto de um mapa para começar as explicações. Inicialmente, aprendemos que a cidade de Troia foi o resultado da construção de nove cidades, uma por cima da outra. A “versão” mais famosa é a sexta, na qual os poemas de Homero contam a famosa história de Paris, Helena, Aquiles e o Cavalo de madeira.


Findas as explicações, seguimos a Zelia até as roletas da entrada e logo vimos, bem em frente à cidade, uma reprodução em tamanho “original” do Cavalo de Troia. Para mim, um dos pontos altos da viagem foi subir e voltar séculos na minha imaginação sobre a rixa entre gregos e troianos.



Junto às muralhas da cidade, a Zelia nos explicou que os arqueólogos não acharam nenhuma evidência de ataque direto a elas. Isso é explicado pelo modo como os troianos construíram os portões. Eles ficavam sempre após uma curva na muralha, o que impossibilitava o uso de ferramentas de arrombamento. E, por isso, eles acham ainda mais provável a hipótese de que a entrada dos gregos na cidade não tenha sido forçada.


Todas as nove "versões" de Troia foram de cidades portuárias, que viviam do comércio dos navios que trafegavam às suas margens. Entretanto, devido a assoreamento causado por areia e detritos trazidos pelo rio, os troianos viram suas margens se afastarem cada vez mais, até chegar ao ponto de tornar a cidade completamente impraticável para o comércio marítimo. E isso teria levado a população a abandonar a última cidade de Troia. Na foto a seguir, é possível ver a distância atual da cidade ao Mar de Mármara.


Abaixo, entendemos como cada construção das nove versões de Troia foi executada.


E, na foto abaixo, cada plaquinha indica a que versão cada ruína corresponde.


Andando pelo sítio arqueológico, vemos que muito ainda parece apenas escombros.


Mas com um pouco de ajuda da guia e da nossa imaginação, pudemos entender o papel que algumas dessas construções desempenhou em seus dias áureos. Como, por exemplo, esse conjunto de santuários a Dardanos e Cybele.


Outra construção que nos impressiona pela preservação é o Odeon Romano, que, entre outras coisas, foi usado para apresentações de performances musicais. O Odeon tem uma orquestra semi-circular e um palco onde havia uma grandiosa estátua do Imperador Adriano.



O tour com a nossa guia foi muito rápido para os nossos padrões. Em uma hora, a Zelia percorreu os lugares principais e deu breves explicações. Ao final, tivemos 30 minutos de tempo livre para explorarmos por conta própria. O que, na verdade, percebemos ser muito pouco para ler todas as placas como gostamos de fazer, tirar centenas de fotos, ir à lojinha e ao banheiro antes de embarcar no ônibus novamente. Mais uma vez empregamos o modo “tá visto” e corremos por Troia para pegar alguns detalhes a mais e tirar mais fotos antes de partimos com gostinho de quero mais.

Nosso último destino do dia foi a cidade de Çanakkale, nosso primeiro pernoite na Ásia menor. Ao nos aproximarmos do hotel, Zelia explicou que, se alguém precisasse de alguma coisa, havia um supermercado quase em frente ao hotel. Mas o detalhe é que, segundo ela, o hotel não permitia a entrada de hóspedes carregando as sacolinhas plásticas e que, por isso, teríamos que comprar somente o que desse nos bolsos ou mochilas.

Deixamos nossas coisas no quarto e, antes de descermos para achar o supermercado, vimos um belo pôr do sol às margens do mar de Mármara.




Bom, eu sempre gostei de supermercados e no exterior mais ainda. Acho uma maneira fascinante de conhecer melhor a rotina, hábitos e a dieta local. Além de ser mais em conta comprar água e petiscos para lancharmos nas longas viagens de ônibus.

Já no supermercado, a Luciane não gostou muito da minha ideia de percorremos todos os corredores em zig-zag para vermos tudo que havia lá (como sempre faço no Brasil). Pois bem, peguei um carrinho e fui em frente com meu plano. E logo parei na seção de frios onde fiquei com vontade de comprar um queijo de cabra para levar. Mas, como estava tudo em turco, como saber qual era? Chamei o atendente e tentei me comunicar em inglês e, quando estava quase fazendo mêêêêêêêê..., ele chamou um colega que entendia um pouco e conseguiu me apontar o certo, ufa!

Resultado do passeio: compramos frutas, queijos, água e ainda duas garrafas de vinho. E quem disse que cabia na mochila? Tivemos que improvisar escondendo tudo dentro dos casacos. A situação foi muito tosca, eu estava me sentindo um traficante tentando entrar com um carregamento escondido dentro do hotel. Tive, ainda, a brilhante ideia de falar para a Luciane correr para o lado de dentro do muro que eu jogaria a mercadoria. Mas continuo sem saber por que ela não topou meu plano promissor e acabamos entrando normalmente com os casacos estufados e a maior cara de paisagem.

No dia seguinte, partida para Pérgamo. Veja no próximo post.


10 comments :

  1. Oi Lu, como prometido, aqui vamos nós!
    Show o texto, muito completo e muito engraçado também! O final é de morrer de rir! Ainda não conhecia Troia assim tão de perto e as fotos também não deixam a desejar!

    Enquanto lia vinha uma música do Zé Ramalho chamada "Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor" na cabeça :D

    Valeu pela força, é sempre um grande prazer passar por aqui!

    Bjo e paz, Michel
    www.rodandopelomundo.com

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  2. Valeu, Michel! Bruno ama supermercado. No exterior então! Os olhos dele brilham e ele não pode perder uma prateleira. Eu acho que minhas bochechas ficaram vermelhas de vergonha ao entrar no hotel. Sabe quando fica quente? Rsrsrs. Ainda embrulhei doce no cachecol e levei na mão! Só eu... Só não entendi a parte da música: por que vc lembrou desta música? Abçs, Lu.

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  3. Essas "aventuras" são sempre um show a parte nas viagens! Deve ter sido muito engraçado mesmo!

    Você conhece a música que falei? Se não, escute e você vai entender! :)

    Aliás, exitem muitos guias de viagem que deveriam mudar de profissão!! Eita má vontade...

    Abração e paz! Michel

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  4. Conheço a música, sim. Mas vou ter que ouvir de novo... Rsrsrs. Valeu! Paz!

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  5. Ouvir bronca da tia Zelia pelo atraso dos outros é sacanagem, ainda mais se foi por causa dos hermanos. Eu ia tirar esse atraso a limpo e saber quem foi o atrasildo...rs!

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  6. Eu achei que Troia fosse mais bonita, também eu trago na cabeça a Troia dos filmes. Realidade 1 fantasia 0.

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  7. Traficante de comida me faz lembrar as histórias de gordinhos em spas. Só na turquia para vc não ter liberdade de levar comida para o seu próprio quarto. Nunca ouvi falar nisso! Eu acho que ia preferir pegar as compras pelo muro, porque ia ficar com medo do cara querer me revistar...rs!

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  8. Oi Fabi! Tróia é muito confusa, por conta de tantas construções uma por cima da outra. Realmente não tem nada de belo. Quanto às comidas, acho que o hotel queria que a gente consumisse a comida do hotel, muito mais cara. Ã-hã, tá bom... Rsrsrs

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